Nesses
últimos 25 anos o universo cristão vem sendo invadido por ondas de adoração. No
final da década de 80 ainda respirávamos o ar poluído deixado pela ditadura e
havia uma espécie de revolta no ar e isto, acabou influenciando todo o mundo da
arte, inclusive os segmentos cristãos. A comunidade cristã evangélica, área que
podemos falar com melhor propriedade, saía dos hinos propriamente ditos,
aqueles executados e cantados nas Igrejas com auxílio dos órgãos e pianos, e
alçava vôo pelos acordes das guitarras e batidas síncopes das baterias, sob a
máxima da nova música evangélica que ficou conhecida como gospel music,
termo em inglês que significa música da boa nova.
As bandas, grupos, conjuntos
e afins se formaram aos montes, todos nós fomos influenciados de forma direta
ou indireta, e se não aderimos, pelo menos aceitamos a nova forma de divulgar o
evangelho. Nesse período nasceram os chamados “guerreiros da adoração”
pseudônimo daqueles que cantavam os famosos “corinhos de guerra”, quem não se
lembra do Pr. Ademar de Campos cantando: “pelo Senhor marchamos sim, o seu
exército poderoso é... O nosso general é Cristo...” Músicas com o mesmo
sentido poético proliferaram-se pelas igrejas evangélicas no contexto o povo de
Deus não estava apenas cantando, mas, defendendo um ideal de liberdade dizendo
para a nação brasileira que tinham um general e Dele não abriam mão.
Em
meados da década de 90, comprovou-se o surgimento das famosas comunidades evangélicas,
estas deram um novo tom à adoração no meio cristão, iniciava-se a composição de
músicas mais introspectivas e com um forte apelo congregacional. “Foi uma época
dos chamados “adoradores sem face” onde as letras invocavam a Deus, usando como
referência o ícone temático: “ Te adoramos Deus na beleza da sua santidade... “Buscamos
a tua face, ó Deus.” O Ministério Koinonia, fruto de uma dessas Comunidades de
adoração e que projetou cantores como Kleber Lucas, Alda Célia e outros, foi uma
espécie de mentor dos demais ministérios de música. Nessa fase os líderes evangélicos,
começaram a repensar a musica cristã e os seus efeitos nas pessoas, tornando-a
mais evidente na liturgia do culto e considerando-a uma poderosa ferramenta de
evangelização.
Apartir
do século XXI com os pesados investimentos na música gospel e com o instantâneo
crescimento dos meios de comunicação de massa, em particular a Internet (rede
mundial de computadores), vimos uma “tsunâme” de novos cantores, bandas, ministérios
de louvor em sua grande maioria sob a égide dos “adoradores apaixonados.” Tendo
como precursor o inspirado David Quinlan que com sua forma emotivamente
personalizada de adorar, influenciou decisivamente a vida de muitos ministérios
de música. Entre eles, o Diante do Trono, sob liderança de Ana Paula Valadão,
que contagiou o Brasil com várias canções e espetáculos que somavam perto de 1
milhão de pessoas, algo até pouco tempo atrás inacreditável para o segmento
gospel.
O que chama atenção para estes
movimentos de adoração é se eles estão de fato causando o impacto que
teoricamente se propõe: conduzir o povo de Deus a perfeita adoração, mencionada
no livro de Hebreus 13.15 “ que afirma: “Portanto, ofereçamos sempre por ele
a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu
nome”, no contexto exige uma postura comprometida com a vida diária de
louvor e não apenas com os efeitos de um show ou de um momento. Apesar de
reconhecer a importância da música cristã como um dos elementos canalizadores
da unção, isto, não a torna essencial por que a verdadeira adoração nasce
primeiro no Espírito do homem e em seguida é repassada para o entendimento que
se encarrega de torná-la evidente na existência do adorador. E esta condição é
imperativa e imutável já que Cristo em João 4.24 afirmou: “Deus é Espírito,
e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”, fica
claro que as variáveis externas dependem da alegria interior. O equívoco está
em tentar produzir uma adoração mecânica, ritualística, litúrgica, mediana... O
que é muito comum nos dias de hoje, onde se percebe ministros de música e
bandas, tentando agradar um determinado público alvo, desviando o foco para o
que não é eterno e conduzindo erroneamente as pessoas para o que é efêmero ou
seja para o espetáculo, luzes, som, fumaça, cantor, músicos e etc. Não há nada
de errado em usar estes recursos. Todavia, parece que a mídia evangélica está
cegando os cristãos modernos com tanta produção e tecnologia e as gravadoras
estão lançando os servos de Deus não para servir o povo com o talento dado pelo
Criador, mas, para que ele dê lucro e que isto resulte no estrelato gospel.
Pode ser que em pouco tempo, os cristão não queiram mais se chamarem de
adoradores e sim de fãs... Isto seria o declínio total.
Porém no meio destas ondas, acredita-se
que existam aqueles de quem Cristo fez menção, conforme João 4.23 “Mas a
hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”, são
exatamente estes que expressam e
entregam o melhor de si mesmos para Deus como oferta agradável e que de fato
são conhecidos por Ele.
Pr. Josean
Dantas
Comunidade Vida
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